sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

E assim vamos vivendo III


e assim vamos vivendo
para ver o novo
e o avesso lento e antigo do novo
arranhando a madrugada
antes que esqueçamos
o gesto dentro da sombra estilhaçada
antes que a noite
e o céu espalhando noite
ocultem-se dentro do nada
antes que esqueçamos
que a verdade está
no quando e no quantum de cada ser
antes que desapareçam
absolutamente voláteis
no burburinho da vida
os milagres e as graças
e que o dia se ausente
e que o mundo se sustente
numa só pergunta
numa só resposta
e leve consigo a clareza
a pedir silêncios
na distância entre as palavras
e tempos atados aos momentos
da mais profunda ilusão

e assim vamos vivendo
caminhando caminhos emboscados
sem atentar aos passos dados
caminhos inamovíveis e mudos
misteriosos
agudos
insondáveis destinos
que nos perpassam
no refúgio do sonho
aparentemente
sem nenhum sentido
carentes de um porquê
e a vida, então, estremece
comovida e fremente
como rogo
como prece
na inquietude dos dias
tocados pelos ventos
que passam
e ardem versos
e cantam sonhos
e choram em silêncio
sem, no entanto,
nunca nos encontrar

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