Vou ficar esperando que você venha comigo
às esquinas dos meus sonhos
aos pátios solitários
onde sopram os silêncios
e as palavras eternas
à rua de terra imarcescível na memória
à minha dor imensurável
ao meu mundo insensato
mudo e irrequieto
às minhas noites de insônia
aos cândidos jardins
às minhas utopias
ao encontro deste silêncio
que me olha enquanto escrevo
à minha inelutável eternidade
para ver as minhas máscaras
com as quais iludo e me iludo
à minha retórica sem fundamento
ao meu sorriso tímido
de quem vem pra vida
sem saber onde pôr as mãos
ao instante do que eu era antes
ver a beleza inefável
e singela dos jogos infantis
jogar as cinco pedrinhas
ver a alucinação dos livros
e os textos onde me leio
e a fragilidade que me move
à catarse da vida transcorrendo lá fora
ao tempo sem tempo
transbordante de imaterialidade
esquecido entre os livros que não li
entre os amores que não vivi
ao meu mundo sem poesia
à poesia do meu mundo
à terra do nunca
ao país das maravilhas
aos rios de Rosinha minha canoa
folhear O patinho feio
e descobrir-se com sete anos ainda
ao paradoxo de existir
ao meu casulo
de onde sairá, um dia,
uma borboleta
que pousará na primeira flor
ver a neblina que esconde as manhãs
ouvir o vento vermelho ao cair da tarde
resgatar o adeus que não foi dito
ver a imagem refletida no espelho
os olhos úmidos por uma lembrança
que fica ao meu lado no espelho
e que aos pouquinhos vai me matando
ao inebriante caminho
insuportavelmente belo
imanentemente triste
e indubitavelmente eterno
que é a Vida
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