sábado, 27 de outubro de 2012

Medo

O medo
submerge no noturno
bruxuleante da luz das candeias
que fazem as noites
tão sós

soluços chorando adeuses

O medo,
vazio olhar,
esconde o dia
o medo arde
na tarde
que demora
e esquece

latejantes gotas dos dias

O medo
vertigem
linhas
traços
ilusão
de sonhos machucados
assim te esqueço

imagens desmanchando-se em espelhos fictícios

O medo
solidão
deslize
madrugada
indivisa
no tempo esconso
da palavra

cintilantes horizontes acendem as tardes de ouro

O medo
leito das horas
inaudito
inelutável
como o amor
dos poemas embriagados
de ternura
e de antigamente

vôos de pequeninos beija-flores sobre as gotas de orvalho
                                                            [que tremem e caem

O medo
lembranças
sem nomes
apenas
sombras
que vão inventando
a vida
dia após dia

Viajante comovido pisando ares e cinzas e sensações

O medo
silêncios
habitando
a solidão
que vêm
com a noite
suspiro da lágrima
que cai,
diáfana
como a manhã
encantada

Pela fresta pálida do céu o sol encaminha o dia no medo debruçado na aurora

O medo
semente
de mágoas
e tristezas
em tantos tempos
estáticos
e antigos
finda no lago
a face dorida
dispersa
na brisa insone
dos caminhos sem vozes
nos círculos concêntricos do lago

O medo é a extensa bruma deste grito e deste pranto latentes dentro de mim
                                                   [flores pisadas pela soberba
                                                                        [entristecidas
                                    [palavras a fenecer em folhas brancas
                                                             [de um silente jardim

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