Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei às romãs a cor do lume.
Foi para ti que pus no céu a lua
e o verde mais verde dos pinhais.
Foi para ti que deitei no chão
um corpo aberto como os animais.
Eugénio de Andrade.
In Poesia.
Rosto Editora - Modo de ler, 2011.
rumores de outubro no céu da noite antiga
o vento passa e com ele
a primavera flana por entre as flores
inadiável, aspiro o perfume da rosa
o vento passa e com ele
a primavera flana por entre as flores
inadiável, aspiro o perfume da rosa
na respiração da noite,
na brisa inocente
ou nos versos
onde banho as minhas lágrimas
e queimo o mistério
que traz a aurora
embora a madrugada
ainda procure e traga, enternecida,
a lua posta no céu para ti
olha que a tarde goteja o verde dos pinhais,
inelutáveis
o poeta deslindou tanta palavra
e tanto signo
e ouviu anjos
e as canções que vinham com as manhãs
e tanto signo
e ouviu anjos
e as canções que vinham com as manhãs
e recriou a criação do demiurgo
para ti,
só para ti
de que matéria poderia o poeta criar rosas
e lhes dar perfume
se não da tua meiguice
do teu corpo desnudo
e banhado nos sonhos
que adormecem em teu silêncio
para ti são os ribeiros e a lua
e o dia amanhecendo
entre os ramos e o orvalho
derrubado pelo vento fatigado
de percorrer a noite azul
dando perfume aos roseirais
a última estrela ainda brilha
a cidade suspira dorminhoca e sonolenta
o céu inacabado e sem contornos
aos poucos se revela e sangra lentamente
enquanto a luz vacilante discorre cores
fulvas no crepúsculo da manhã cinza opalescente
o dia espia as sombras se dissolvendo
e se diluindo ante os olhos negros da madrugada
o dia desperta e afaga as flores
com extrema ternura
trinam os pássaros
o mar cintila purpúreo
sob o azul aonde começa o céu
o dia nasce
a luz frágil da aurora alumia as rosas
é tua a manhã que se deita devagar
por sobre o mar
foi pra ti que se fizeram doces os lábios ternos da poesia
para ti são os ribeiros e a lua
e o dia amanhecendo
entre os ramos e o orvalho
derrubado pelo vento fatigado
de percorrer a noite azul
dando perfume aos roseirais
a última estrela ainda brilha
a cidade suspira dorminhoca e sonolenta
o céu inacabado e sem contornos
aos poucos se revela e sangra lentamente
enquanto a luz vacilante discorre cores
fulvas no crepúsculo da manhã cinza opalescente
o dia espia as sombras se dissolvendo
e se diluindo ante os olhos negros da madrugada
o dia desperta e afaga as flores
com extrema ternura
trinam os pássaros
o mar cintila purpúreo
sob o azul aonde começa o céu
o dia nasce
a luz frágil da aurora alumia as rosas
é tua a manhã que se deita devagar
por sobre o mar
foi pra ti que se fizeram doces os lábios ternos da poesia
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