segunda-feira, 19 de outubro de 2015
A solidão dos meus medos
a solidão dos meus medos
e das palavras que digo
onde me escondo
na madrugada antiquíssima
abrem-se ao canto dos pássaros,
seguem os barcos
despertos pela luz da aurora
a manhã perfuma os fogos
acesos nas tuas noites
e ainda queimando a te procurar,
as tílias balouçando no tempo
são alento,
a luz diluída debruando a aurora,
emoldurada no vento,
sussurra e cicia
enredando um novo dia
e os dias inventam luzes
e claridades
inventam ilusão e alegria
os pássaros,
indiferentes aos relógios,
sem horas com as quais lutar,
cantam simplesmente por que nasce o dia
por que algo dentro de si os faz cantar
e os faz cantar irrompida e desatada cantoria
e os pássaros inventam cantos
eternos de melodia
a aurora
alta,
infinita
e primitiva
descerra escarlates
jardins sem nomes
aninham-se as lembranças que a noite trouxe
na manhã ainda embriagada de sono
as cores todas da melodia das luzes
pousadas na ponte
ainda escorregadia de sereno,
abstraída sobre o lago inerte
sarapintado pelas folhas que caem
antes que os olhos as sustentem
nos galhos que pendem
carecendo do silêncio
que não há,
nunca houve,
nunca haverá,
e a aurora inventa lagos
e a brisa sobre os lagos
e nos lagos águas trementes
a manhã sente e entende os ruídos
da claridade,
da terra afogueada
sente as centelhas do milagre
e não precisa sentir mais nada
para que o dia separe-se do escuro
encobrindo os passos rumorejados da madrugada
e a manhã invente os dias
e a inocência do azul no céu
como um milagre
que se espera
e se alcança
algo ou alguém
chorando inventa
a intrincada esperança
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