quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Aonde?


aonde as flores
ainda olham,
lentíssimas,
quando caminhas
como a estrela da tarde
antes de chegar o luar
esquecida da noite
e pela noite esquecida?

aonde os frutos
desatam-se e caem
na memória da sombra das árvores
e deixam a primavera imóvel
e as tardes nas minhas mãos?

aonde as chuvas
partem sozinhas rumo aos rios
molhados pela solidão do sol poente?

aonde o dia
mistura-se ao esquecimento
e retorna à ausência onde
andam os caminhos sem memória
e os abandonos falam de saudades?

aonde tuas mãos
desarrumam as chuvas
e afagam as sombras
das palavras que ainda não te disse?

aonde teus pés
caminham sob o firmamento
e a mansuetude do dia demorando a nos dizer?

aonde teus olhos
encontram a noite,
passando lenta e sonora,
passando meiga e serena
semeando o mundo
com o sopro denso e escuro?

aonde os teus lábios
(e só os teus lábios podem)
dizer o que ainda sou?

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