quarta-feira, 30 de setembro de 2015
Teu nome faz os pássaros dizerem versos
o silêncio coleante e forte do inverno
enlaça as mãos vazias do dia
saindo delicadamente da noite evanescente
acordando o destino da rua cativa, deserta
adormecida entre recordações
e volteios do passado
pousa nas árvores derramando
folhas alaranjadas dentro dos lagos vermelhos
o sereno caminha pelos galhos secos
o vento suspirando a noite em seu fim
recorta cores e põe retalhos coloridos na aurora
se elevando no horizonte entre delicadezas e acalantos
um sol,
incipiente e inconcluso,
toca o ar ainda frio,
tremelicante
e sonolento
espreguiçando
esfregando os olhos
diante da irrealidade inapreensível de um novo dia
as cores escorrem do ocaso para dentro da sombra
coligindo vidas tardias,
rasgando tempos e dores
semeando mares
e portos desmesurados de amores
ensinando o caminho aos rios
que te esperam
onde a ausência mais fala de ti
a aurora
clareia a manhã e suspira
ateia fogo ao céu
e no telhado das casas mudas.,
miúdas
e impávidas
os ares,
translúcidos,
ressoam as primeiras palavras
que roubam ao silêncio do dia
e de sacadas que apenas espiam
as últimas estrelas balançando na noite indo embora
esboçando aqui e ali um rosto posto em alguma janela
admirando os pedaços de dia que a luz vai desnudando
e sobrepondo sobre os outros dias de lento esquecimento
por onde se insinuam os pássaros
invisíveis entre a folhagem
só o canto é grito e instante
entalhando a manhã do infinito dos dias
a lembrança dos teus lábios
ata-me aos barcos e aos mares inertes
sem sopro de vento que os mova
e sinto cair,
gota-a-gota,
a saliva do beijo que por não ter sido dado
é só memória
nos meus lábios entreabertos,
na minha boca irremissível
que pergunta pelo teu nome
e teu nome faz os pássaros dizerem os versos
que faço para ti
sem que tu saibas
e os dirão sobre os segredos e as ternuras do teu corpo
que de ti ainda não sei
ainda é meandros e sonho beijar as tuas mãos
tocar a inocência do teu nome e a tua beleza
deusa que és de toda a graça morena
flutuas sobre mim quando tu passas
e o meu mundo se refugia e abriga-se nos teus passos
e o ar em torno é um só soneto com cores e aroma de açucena
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