domingo, 27 de setembro de 2015
A flor
A flor é o devir da flor
a flor em si mesma
e a lembrança da flor
O momento tremente
em que a penso
e aprisiono a flor
já não é mais a flor
é idéia e posse
é o que os meus olhos antigos
e a minha mente viciada dizem que é flor
mas, não é a flor
é a imagem decalcada
pelas imagens de todas as flores passadas
é o sonho doendo dentro da vida
A flor é o que sinto no momento
em que ela se entreabre só para mim
e cede-me as cores
e espargi-me aromas
e entrega-me o sol que também é a flor
e eu e ela somos uno
nas manhãs que regressam
pousadas em borboletas
e, lentas,
entram pelas janelas
A flor perfuma o instante
recendendo no sopro
das brumas e das saudades
que vêem das ilhas encharcadas
pelos ventos
derrubando pétalas
atravessando o rio e a minha alma
para perfumar os dias
de beleza
e da infinita mansidão
das garças esperando para
desaparecer
junto com as tardes
dentro do espelho oxidado
das águas da lagoa
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