domingo, 13 de setembro de 2015

"Nunca poucos fizeram tantos de pinico"*


Poucos
Bem poucos são
os que nos turvam a visão
nos embaralham a emoção
nos embotam a razão
deitam a última pá de terra ao caixão

O torno e a forja midiáticos
montados para dar sustentação
à transformação de um homem
num gordo, rotundo e esmaltado pinico
aparelhou o "making off" desde a criação

Povo...   Ah! O povo...
com esta imanente vocação
para pinicão, para pinicaço
tornando o rico, ricaço
sai pra rua
põe nariz de palhaço
como quem entendeu
quem lhe dobra o espinhaço
mas, basta bater um tambor
para esquecer toda a dor
e sair dançando (em todos os sentidos)
prosaicamente
talvez para encobrir o medo
e enrolar o lençol que vem junto com o fantasma
talvez sem se perceber
de que o nariz de palhaço lhe cai bem

A TV, o  rádio, o jornal, a revista
modela a matéria prima do pinico
na confeição que bem entende
sem deixar rastro ou pista
o que não falta é "doutor" e artista
desfilando à nossa vista
dizendo como, quando e onde fazer
a nossa festa arrivista

A TV te vê,
nos engole
nos tolhe
dessangra nossos miolos
e cospe
pinicos de toda sorte
semeia a estupidez
em nossas mentes tementes

A TV quer que a gente rebole
a gente rebola
como um bando de dementes
descendo até a boquinha da garrafa
baldes de mediocridade
ministrados homeoapaticamente
enquanto a gente nem pisca
ela nos pesca
peixe para a fria marmita
sardinhas enlatadas
aonde foram parar as cabeças?
espinhas entaladas
na goela de uma realidade escamoteada
rançosa
ela nos iça
e vai transformando em carniça
ou matéria para uma outra missa
este povo descartável
que o "establishment"
oprime
reprime
enquadra
pasteuriza
e vomita
num déjà vu "Orwelliano"

George Orwell era aprendiz
quando descreveu em "1984"
como tornar gente
em pinico o incauto desinfeliz

Ah! eu quero tanto ser feliz
mas a minha ignorância não deixa
o que eu tenho é só pergunta e queixa
e estes olhos estatelados
fitando os momentos atabalhoados

O gosto amargo da vida
a futilidade dizendo asneira
ditando moda e comportamento
falando a estudada besteira
a cultura catando xepa na feira
a propaganda ideológica
a visão ginecológica
a curetagem cerebral
a lavagem emocional
trazendo à tona o animal do animal
a luz e a sombra tratadas com esmero e lógica
para vender "Merry Christmas!" no período de natal
tudo absorvido subliminarmente
pelo vivente pinico e seu destino fatal

O jornal
A revista
Idem, idem...
Tudo tão igual...   Tão igual!
A parvoíce geral

Eles são poucos,
muito poucos
mas detêm o conhecimento
de fazer cantar o jumento
e cumprem exemplarmente
o papel que lhes foi designado:
transformar gente em pinico
que pode vir vazio ou lotado

Todos vendem o mundo
que lhes deram pra vender
e há até certos conceitos
bem fáceis de se entender:

"a propaganda é a alma do negócio"
e o ócio
é o momento do negócio
de se pegar o beócio

Espanto!!!  
Quase confirmação
Tenho a clara sensação de que
estamos nos bestializando cada vez mais
e mais cedo
Ou é apenas a constatação de se estar vivo
e seu inerente medo

*O título da postagem foi pego no livro "Poesia Completa - Manoel de Barros" - Página 150

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