quinta-feira, 3 de setembro de 2015
O outono
o outono
entre soluços do orvalho
e as folhas amareladas do poema
sustidas nas árvores
ameniza as cores dos dias
atentos à paleta do sol
tinge o lago de dourado
derruba sombras e folhas
e escreve versos
com mãos de jardineiro
e as folhas caídas nas águas
quebram o silêncio timorato da tarde
os raios de sol
debicados pelos pássaros
lentamente engolfados pela montanha
encostam a face no horizonte
e acendem o escuro da noite
acendem as estrelas
e a lua no céu
tonteiam os ninhos
a enganar os últimos pássaros
escorrem dos telhados para os muros
rolando devagar pelas ruas
até desaparecem aonde ninguém pode escutá-los
enrolam-se nos jardins sonolentos
e ardem nos rios
até se acabarem
e deixam no mar
rumores de prata
e frios desertos
despertos pelos ventos
semeando canções
às vezes terno prelúdio
às vezes alegros exasperados
e só você pode ouvir
do modo como você ouvirá
só você
ninguém mais
Imagem: Charles Louis La Salle
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