quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Dos sonhos eu quero os mais maduros


Te vejo
quieto como o sol suspenso lá fora
como o tigre que começa em tua boca
como a ave que ainda não te conhece
e se demora
a olhar tua beleza
como a face vermelha ao perguntar o teu nome
como o barco costeando rumo ao farol dos teus seios

Como não olhar
quando te vejo?
se as palavras com as quais eu te prevejo
com as quais te falaria
se extraviam
absortas
insondáveis
quando vens caminhando
como os versos caminham para o poema

Imagino teus olhos
não os vejo
negros olhos?
noites calmas?
onde começam?
onde terminam?
sonhos negros?
imagino teus olhos,
dona do tempo,
e espero
você inteira passar

Quem é você
morena, linda e leve
sonho, miragem, ilusão
surgindo,
trazendo fogo,
para o inverno do salão
quando vens caminhando segredos?
caminhas como quem dança
o passo lento do vento
as chuvas bebendo o verão
fazendo de ti
flor de laranjeira
pólen
favos de mel
pela tua morenice açucarados
nos teus lábios onde o beijo pousa
e as abelhas sorvem os dias
para te entregar

Há um mar entornado e inacabado entre mim e ti
mordo o tempo
o dia passa tão lento
esperando o outro dia
para eu te ver outra vez
vou sentar no mesmo lugar
para você logo me achar
e onde meus olhos te alcancem
para eu poder te acompanhar
passo após passo vindo
como quem viesse
de dentro das pedras da rua
na minha direção
e do meu encanto
a manhã te esperando
flor a ser colhida
saudade a ser bebida pela sede
menina morena
meus olhos, incompletos,
se completam quando te veem
meus olhos vão aonde a tua ausência vai
meus olhos vão não sei onde quando sais

Dos sonhos quero os sonhos mais maduros
suculentos
quero os sonhos mais maduros
quando te vir outra vez
quero o silêncio dos teus passos
que ouço quando chegas
trazendo ritmo e graça
e a pergunta nos teus cabelos
dos sonhos que despertam
em tantas carícias supostas
quero o sonho suculento
escorrendo sumo in natura
quero a candura
inebriante dos versos silentes das tuas costas

O silêncio fala de nós
ancorado à inocência do mar
o silêncio diz que eu não devia
te olhar como eu te olho
mas meus olhos olham,
logo que chegas,
para a ausência que deixarás
e, então, meus olhos já são só saudades
embaraçando-se no levitar dos teus passos
envolvendo-se na tua beleza de terra e rios
instante eterno e sozinho dentro do poema
que eu nunca esquecerei
nunca esquecerei
do enlevo desta candura que me toca
e deste poema que jamais te enviarei

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