domingo, 28 de dezembro de 2014

Tão longe é aqui

         

          Tão longe é aqui
(Título do filme de Eliza Capai)


lá fora os ventos são só silêncios
incessantes
amoráveis
a alma é ausência
o sentir é dormência
os olhos ainda não se acostumaram ao escuro
o mundo se olha cego
nada se vê do veludo negro da noite
estrelas viajam nos céus
encruzilhada de mim

chove

uma chuva vermelho-carmim
dentro dos pingos lembranças
de você
lembranças de mim

em um segundo a desatada distância
entre eu e você
entre você e você
entre eu e eu
entre eu e aquele que vejo e que me olha do espelho

entre eu e você há caminhos que saem daqui às 22:39 horas
pontualmente
todas as noites
caminhos que vão para o passado
regresso à sombra que não deixa nascer a manhã
assim como a estrela traz o passado na luz
que só agora se vê
beleza de milhões de anos atrás

tão longe o que sou
tenho que nascer outra vez
e outras (se preciso for)
para viver o amor
mas, eu não quero viver
o meu, o teu amor
a ilusão da carne
a escravidão da carne
eu quero viver o amor incondicional
eu quer aprender das lágrimas o gosto do sal

não há caminhos em mim
há chuvas convulsas
há pedras caídas do tempo
interpondo-se no caminho
que haveria, mas não há
há sonhos que se arreliam
há um menino chorando,
comendo a parede de barro
há poeira,
muita poeira
e grandes redemoinhos
quando tento voltar para casa
o vento joga poeira nos meus olhos
sozinhos
não consigo encontrar o caminho
erro
vivo das migalhas que caem no chão
tantas vezes
morri em busca do caminho
mas, caminho não há
tão longe é aqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário