segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Domingo


Domingo
Agosto amadurece
na brisa da madrugada amena
que respira solidão
Seis horas da manhã
A madrugada ainda dorme na  sacada
de onde vejo a mulher que passa sozinha
caminha
passos apressados
arranhando a ainda madrugada
a manhã adormecida
compondo formosura
e fragrantes silêncios transparentes
Aonde vai
sem que a luz a veja?
A cada passo faz o passado
faz o instante do fim da espera
O que busca na cidade ainda vazia e dormente?
O que deixou na cidade além dos gestos e dos passos
que somente as esquinas viram?
Busca o mar que se escondeu na memória da infância?
Deixou sonhos?
Deixou os olhos no céu
entre os astros que já descem para as águas azuis do mar
e se afogam de vida
para poder ressuscitar?
Busca os barcos ressoando nas areias?
Busca o beijo do dia e o seio das rosas?
Deixou alguma tristeza na melodia ritmada dos passos?
Leva o tempo passado adormecido em seus braços?
Espera o sol tecer o pólen dos seus raios
e amadurecer favos de mel entre os seus dedos?
Talvez nada busque
Talvez nada deixe
Talvez nada espere
Anda sozinha a estas horas por que ama o sossego
das praças e jardins ainda molhados
por uma lua inacabada
Caminha pisando a solidão das folhas
que o vento antigo e insone derrubou
Quantas vezes?
Na quilha da madrugada,
anda absorta
do jeito que os rios profundos e ensimesmados andam
O silêncio transbordante das ruas é diferente
na madrugada que passa com a mulher
percute uma vária melodia dentro da madrugada sem gente
O vento, se espremendo em cada esquina,
aos movimentos da mulher e aos seus sonhos de menina
acorda pássaros pressentidos,
bilrando nas árvores,
trinando entre os ramos adormecidos
nos derradeiros escuros amarrotados pela noite

Passa na rua uma mulher
na rua que vai passando
A mulher
que o tempo todo esperava
o tempo todo esperando
Anda apartada do mar
pela rua que vai passando
No tempo que esperava
o tempo todo esperando
as estrelas saírem das águas
por que não sabem nadar
e vão acabar se afogando
E a mulher na rua passando
A madrugada se desmanchando
A aurora se recriando
à luz dos passos
da mulher na rua passando
como quem dança ao caminhar
como quem dança flanando
esquecendo as horas no ar
fazendo-se a parceira do sonho
que na vida vai passando
e com ela põe-se a dançar

Nenhum comentário:

Postar um comentário