(Poema baseado no poema
"Erguer a cabeça acima do rebanho"
de Affonso Romano de Sant'Anna)
O rebanho pasta mansamente
a grama velha e pisada
a grama tantas vezes mijada
tantas vezes cagada
como se fosse uma grama tenra e fresquinha
O rebanho só vê uma face do escuro
não faz idéia de quem põe os tijolos no muro
quem serve nas refeições o capim seco e duro
O rebanho não se recorda
de quem o amarra com uma corda
tão curta para ele pastar
O rebando anda a esmo
fazendo sempre do mesmo
vivendo por precisão
engolindo sem mastigar
o que lhe dão de ração
desnorteado e displicente
girando os giros do globo
entre a mão que solertemente lhe afaga
e a mão que lhe espreme a chaga
não sabe onde se esconde o lobo
Que o encanta como o osso encanta o cão
e lhe devora
sem dó ou comiseração
sem que o rebanho esboce
a mínima reação
O lobo embosca e caça a presa com o medo que dissemina nos ventos
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