sexta-feira, 21 de agosto de 2015
Já não me dói
as madrugadas imarcescíveis
nem sempre são perfeitas
quando querem ser pressagas noites
e se embebem de vestígios
de tantos tempos puídos
ocultos no sótão da memória
finjo dormir iludido
que o medo que tenho dos meus medos
já não me dói
quando atiram-me a pedra
e os pássaros,
assustados,
voam pressupondo o perigo
a pedra exaure-se em aflição
tudo, então, já é mais que antigo
o vento passa,
indiscernível,
sustenta no ar os dentes-de-leão
a vida sustenta,
nas coxias do teatro das manhãs
a pergunta insciente:
por que é que a vida já traz
o tanto da morte da gente?
Imagem: Charles Louis La Salle
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