sábado, 29 de agosto de 2015
Tudo o que escrevo é poesia
Há cinco anos
quando comecei a escrever
eu procurava classificar meus textos
segundo categorias pré estabelecidas
(soneto, acróstico, crônica, haikai, poesia disto ou daquilo, ...)
numa tentativa aflita de segurar as gotas que caiam
devagarinho no avesso da terna e esvoaçante mariposa da memória
de separar o poema do não poema
a planta do seu floema
a contradição do dilema
os barcos calados do silêncio do mar
o grito aceso da chama que o faz gritar
De uns tempos para cá eu decretei
unilateralmente
pretensiosamente
e por me ver inteiro neste debruçar-se
sobre este rio impressentido me chamando
neste silêncio descuidado que não cala e dói
nas águas nas quais eu escrevo
e depois que dói
a dor derradeira se esboroa e não dói mais
Em segredo
encharcado de arrogante infância
onde eu era o rei
e todos deviam fazer o que eu mandasse
silente
ensimesmado
e cismando
decretei:
Artigo 1º - Tudo que escrevo é poesia
§ Único - Revoguem-se as disposições em contrário
Mesmo quando o instante dentro do texto
não via o poema que eu via
mesmo quando agora escrevo
o que me dita a avivada madrugada
como se fosse uma litania:
Agonia
Agonia
Agonia...
Imagem: Anatoly Timoshkin
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