quinta-feira, 14 de maio de 2015

Alma seca


A alma vagando ao léu, dentro de escura prisão, sufoca dolentes suspiros

apaga os pássaros
e a manhã já não canta da brisa a sua canção

apaga as flores no jardim
e as cores de entre os canteiros se vão

apaga a lua lasciva
e a noite adeja por sobre a sesmaria da ilusão

apaga a vida
e a quimera que a sustinha desvela-se em escuridão

apaga o amor
e a tristeza perambula nos adros da solidão

apaga a compaixão
e as dores dirigem-se à ponte e atiram-se às águas, sem remissão

apaga o poema
e evolam-se os versos rabiscados e insontes no mundo, como rosa em botão

e, por fim, apaga a si mesma
e torna a mística quimera
rosa impressentida brotando na escuridão

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