segunda-feira, 4 de maio de 2015
Cigarras
a vida
vazia de sentido
cheia de pedras nos caminhos
sem Drummond para nos alertar
com moinhos de vento e quimeras
e Quixotes a enfrenta-los
onde cada um se reconhece...
ou não
a vida cochila
na tarde que discorre como uma queixa
pelo fragoroso engodo do tempo
por onde penetra e amolda-se um céu difuso
na agonia do dia
enquanto a cigarra entoa
num "pout pourri" monótono
solfejando melodias lancinantes
toda a sua cantoria
lépida e incessante
entoa a cigarra seu recital cantochão
o anti silêncio do instante
reverberando no quintal
um repertório quase todo nacional
a vida assim parece este cantar infindo
este poema gutural e imperfeito
por que canta tanta solidão?
por que canta, tão lenta e longamente, afinal,
nestes prelúdios de verão?
por que canta, quase sempre no mesmo tom,
se os ódios e as guerras
teimam em não acabarem e não morrerem
e a vida se repete consoante à
incivilidade, a inconsciência
e o arrivismo, sem limites,
do homo que se auto intitula sapiens?
nada ou pouco sabemos/meditamos do inefável amor
que está presente na árvore
e na cigarra
e na perfeição da cantoria da sua vida curta de cigarra
e que a leva a cantar até morrer
por que ser cigarra é ser assim
este é o seu sonho
que é anterior à cigarra primordial
o canto da cigarra é o mesmo canto das estrelas
e dos astros aliciando o infinito sem fim
de um Universo que é Pensamento
e que viu todos os seres
serem
a perfeição
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