sábado, 2 de maio de 2015
Dentista
tento escrever,
mas a visita ao dentista não me sai da cabeça
- pode sentar, por favor...
estende a mão em direção à minha boca
- abre... grande... vira, morde...
examina,
examina,
examina...
olha os dentes com a mão
e olha com todo o ser a farta ausência de dentes
murmura pra si
suspira,
como se a falta de dentes fosse nele e não em mim
arrima os olhos com o espelhinho
a raiz exposta
que bosta
findo o exame
calcula,
calcula,
calcula...
no computador
sem puta dor me diz:
nada que dez mil reais não dê jeito
SUSTO MOLDADO EM RESINA!!!
BÊBADO DE SUSTO!!!
pasmo diante do imponderável
indeciso,
penso com o siso que não tenho
e nem juízo também
coisa parecida só no "Inferno de Dante"
falta-me a noção da mais-valia dentária
R$ 10.000,00???
uma dor imprecisa,
que não me permite fechar a boca
cada vez mais aberta
cada vez mais imensa
cada vez mais só queixo
como que para entender o valor
do sorriso imensurável e gaio
sorrio,
banguelamente
um sorriso amarelo cigarro
no espaço da sala uma súbita falta de ar
no bolso a usual falta de grana
evidencia a silenciosa
a insopitável
a anti estética falta de dentes
o gosto viscoso e translúcido
da saliva seca
misturou-se ao gosto que o vil metal
deixou no sangue azinhavrado na boca
*********************************
Eu vi, outro dia,
um carro ofertado por R$ 2.500,00
Olhando, assim, o binômio
carro/dente
concluo que o meu sorriso sem dente
que era fácil e contente
entra, indubitavelmente,
como bem a se inventariar
para o meu ativo permanente
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