terça-feira, 12 de maio de 2015

Enredo


para a paz diáfana do dia há solos de pássaros
ecoando no ar de uma manhã nublada de novembro
na paz do canto dos pássaros
há lembranças e lamentos
lamentos de quem?
lembranças de quê?
de uma rosa vermelha esplendendo junto ao muro
dando cor ao mavioso canto da chuva
que soa tão de mansinho fingir-se de ar?
de um pássaro origami
levantando voo da dobra da vida?
dos felinos olhos negros de Pingo?
da embriagues de uma carícia numa tarde boba
de bobos sonhos e amores bobos e eternos?
lembrança de quem, meu Deus?
lamentos de quê?
conspícuos lamentos
olhares chorosos olhando de si para si
um ponto a ser posto no texto
sem saber-se se é de interrogação
exclamação
ponto final
vozes trêmulas silabando os olhares do passado
numa manhã nublada de um novembro
debruada pelo gorjeio dos pássaros invisíveis
dos quais só se houve o canto
e que o canto nos baste
apoiado no sonho me basto
e me imolo para algum deus da eternidade
afinal, se tudo foi só um momento fora do tempo
quando a vida, anacronicamente
abandonou-se à sandice
e à fantasia
tudo o que veio depois foi poesia

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