sábado, 22 de outubro de 2011

Manhã


Quando a manhã surge equilibrando-se por sobre a aurora e os sonhos recendendo à noite e à lua
meu primeiro pensamento é teu
pensamento que o raio de sol borda na névoa acesa que cobre os telhados
a escrever teu nome em cinco sentidos sonhado
pelos negros olhos macios da madrugada
e corro a ver para além do céu recém molhado de azul
os teus olhos,
sonhos entreabertos na sombra leve entre as pétalas do silêncio e os amarelos da aurora
onde um sino oscila e dobra aos sons transparentes das palavras e do meu sentimento,
aonde pássaros cantam dedilhando o instante... tão devagar...
momento efêmero e tão frágil
deixando na auréola do dia palavras que são só tuas
e que eu não posso te entregar,
perdido ramalhete de rosas orvalhado de distância,
te aguardando em meu coração
para além deste tempo ritmado,
para além dos tênues traços curvilíneos da ilusão.
A noite, quando perpassa o céu com suas sensíveis cantigas,
sussurrando teu nome à minha alma,
diz que posso te esperar
a lua que vai passando por aqui tão devagar,
mansamente, a caminho de outros céus...
de tardos mares...
de Fortalezas,
reflete vastidões e singelezas
espargindo em mim o vulto da tua lembrança
e o vulto da tua lembrança em mim também é você
Você...
úmida rosa,
lírio de ausência,
sândalo ao vento...
por quem espero no rastro das estrelas que enlaçam a noite trêmula,
por quem espero em caminhos extintos
revirados de ânsia e de saudades por onde vim
Por quem espero para que venhas gostar de mim...
                                                  ...e que leve-me contigo.
Imagem: Olga Sinclair

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