terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Poesia, o amor posto entre aspas


na palavra que perdura
ou em outras se desfaz
desdizendo o silêncio
e esgueirando-se,
ardendo,
ou em cinzas já desfeitas
mimetizam-se sonhos imarcescíveis e voláteis
apartando a saudade do tempo que passa oscilante
na barra onde os barcos são velas que amanhecem
numa bêbada solidão
consumindo-se em incoercíveis lembranças e desvarios

nuvens,
mansas nuvens,
banidas e tangíveis,
contornam os montes vadios,
vazios,
conspurcando a realidade
os sonhos gritam ruínas
para a paisagem sem eco da eternidade
flanando como folhas ao vento do fim da tarde
ondeando em círculo nas águas
que se abrem nas cintilações translúcidas do lago
volteando o tempo que passa sem alarido nem medos
das madrugadas caminhando
para os arvoredos falando as mágoas dos ventos
cerrando os olhos inquisidores das janelas insones

despertar e sublevar dominados sentimentos
deslindar enigmas na compreensão lúdica do ser
esperar para ser flores
ou o passo esperando a ponte
ou a ausência do caminho
como esperam algumas palavras para serem poesia
opalescentes como serafins
ou uma justaposição de nefelibatos fonemas
sendo a poesia o amor posto entre aspas
o fator em evidência
sendo o leitor
a condição de dois seres
o silêncio
e o espelho desperto refletindo madrigais

no meio da noite insonte
poeta e leitor, então, se encontrarão?

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