terça-feira, 10 de maio de 2016

Falo do tempo


falo do tempo
e do engodo do tempo
e da posse do tempo
e dos gestos do tempo
como se soubesse do momento do abandono
do minuto sedento
bebendo os dias vazios de canções
espiando as horas nas noites inúteis
devolutas

falo do tempo
como os homens falam de si
como os sussurros falam dos ventos nas madrugadas
como o cicio pensa músicas em minha boca
e a noite fala de tudo

falo do engodo do tempo
e do desespero incessante do tempo
agoniando a incontornável existência
enchendo de ânsia e mistério
os fragmentos esparsos da vida

falo da posse do tempo
e da distância esquecida nos caminhos
sinuosamente cansados
estertorantes e tristes caminhos
longos como os longos dias perpassados de solidão
e o lamento da vida passando incontida como os pensamentos

falo dos gestos do tempo
e aqui as flores nascem
a estrela cintila
a lua dança nos ventos
o amor semeia mundos
a ausência faz suspirar
o outono quer germinar
e o sentimento balança
como as ondas do mar

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