domingo, 27 de março de 2011

Quem és tu?





Quem és tu, esta mulher, que se fez amor no amor?
Recriou os meus dias na canção doce da sua voz na qual me ouço, na qual me vejo, na qual reflito-me como eco
Meu coração esquecera-se do inadiável instante da brisa que vem do mar
Trazendo amor, trazendo o amar, trazendo a voz distante que veio me namorar
Quem és tu, esta mulher, que me olhou por entre a porta e os meus braços?
Por entre meus sonhos fadados a dormir meu sono antigo, a dormir os meus cansaços
Que veio trazendo em seus lábios o orvalho que colheu no primeiro som da manhã
Trouxe tanto sentimento, me olhou por uns momentos, depois me disse: Sou eu!
Sou eu que o amor te traz no beijo que a flor colheu, quando a manhã ainda nascia e o dia se incendiava no horizonte
Na manhã que a luz cingia escorrendo gota a gota entre as frestas dos vitrais
O meu amor ainda era apenas um pensamento de Deus
Um pensamento de Deus, nada mais
No olhar que a flor colheu, no beijo que o amor trouxe, meu corpo beijou teu corpo alvo
Na manhã que cheirava à flores, a cravo, rosa, lírio e jasmim
A lágrima, da qual pendia o dia, se desfez na eterna manhã cheirando à rosa, cravo, lírio e jasmim
Ouvi teus olhos dizendo-me coisas lindas, leves, suaves
Olhei teu vulto a flanar a tua alvura como uma manhã onde o sol principiara
Um sol crepuscular a aquecer as nossas peles
Esquecido o sol, esquecida a flor, esquecido o dia
Teu corpo ao meu amor se deu
Meu corpo, como o encanto de outrora, calou-se ante a tua alvura de luar
Amou-te como as tuas mãos e os teus seios e o teu ventre e o teu sexo lhe dizia
Ouviu o silêncio transparente da canção cantada ao longe, tão longe quanto podia
Velou o cansaço que o amor impôs aos nossos olhos na tarde flutuando num céu dormente
Dorme, meu amor, dorme que a poesia presente no amor será de nós dois
Dorme, meu amor, dorme que o sonho que te trouxe pra mim agora não podia deixar pra depois
Amor, velo por ti
Amor, quem és tu...?
Quem és tu, esta mulher, que se fez amor no amor?
E o amor não foi mais que esta ingênua carícia que me beijou
Este olhar que confundiu-se com o meu na tarde alegre que se estendeu lânguida ao longo do corpo do dia
Nos meus braços tu dormias
No meu corpo tu ficaras
Como a indelével tatuagem feita em suor, feita em gozo, feita em voláteis aromas da rosa do amor, as rosas dos madrigais
Na tarde alegre e lânguida nada havia pelo mundo a não ser a luz do dia ninando eu e você
E mais um beijo que passava quando a tarde entrava a dormir em seu passado fingindo que não havia no mundo nada além de eu e você
O beijo, senhor cativo, do nosso amor se enterneceu e beirando os precipícios, antevendo o esboço da noite na tarde que ia se apagando, na tarde que em si morreu, vincou a cor da saudade, roçou a voz da verdade e nos beirais da noite também ele adormeceu
A lua, tão sozinha a brilhar no céu sua solidão, só não era mais sozinha que a funda escuridão
Na noite brilhando entre as estrelas
O sono se desprendeu de mim
Traçou no céu o inicio da poesia
Que perguntava assim
Quem és tu, esta mulher, que se fez amor no amor?
Quem és tu, este amor, que se fez poesia em mim?



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