sábado, 17 de dezembro de 2011

Tarde

Há um rumor de folhas secas na tarde quando caminho
como uma cantiga a cantarolar versos da alma.
Versos que por vezes me mentissem...
que desabrochassem em meio às folhas brancas...
depois das palavras que lentamente abrissem veredas
entre os passos tristes da poesia indizível aos nossos olhos escuros
Os versos que só soam depois de um ponto final,
depois do eco no mar,
depois dos passos na areia,
depois do silêncio do mundo.
Mas versos...
Versos azuis manchando as névoas das nuvens que desfolho
e que a tarde canta ao vento quente e quieto luzindo emoção.
A minha alma só e silenciosa apreende os céus a escurecer
A brisa que ora passa, ora cessa, traz o sono da noite
E em cada janela aberta onde o silêncio entra com a maresia,
ouve-se a tarde e a noite, enquanto a vida escurece
Diz a tarde: "Desfaz-se em sombras o dia"
Diz a noite: "Ainda há luzes que o dia tece"
Entre as sombras do dia e os retalhos da claridade
flutuam as brumas do ocaso vagando dentro de mim.
Flutuam, em mim, duas tristezas devido a eu ser assim,
como o vento flanando caminhos ornados de céu e mar e fogo
e ar, de barro e terra ávida de sementes de primaveras lentas e belas.
Uma tristeza goteja pequenas melancolias encarnadas
no meu peito onde calo meus desejos de quem não fui
A outra tristeza ondula na ilusão dos sonhos e desejos infindáveis, trazendo de muito, muito longe, vozes na noite infinita.
São vozes de paisagens dormentes,
solidões suspensas no ar,
da vida irreal e aflita.
Murmúrios de um final de tarde,
enquanto a vida espera por entre o amor e o medo
a meninice dos meus olhos,
em tantas ternuras e o mel que a tarde emana,
dizer-te poemas em segredo.

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