domingo, 18 de janeiro de 2015

Menina do Moçambique


Menina do Moçambique
Amiga que o Universo dá pra gente gostar
Assim, sem entendimento
Assim, como quem se encanta por um pensamento
e a voz que o recita silenciosa e ternamente
este sossego,
esta calma
de rede balançando à tardinha
Um gosto alvo e doce de paz
Te gostar é substância,
inconstância,
é a distância entre as noites
e as manhãs que trazem você
Você olha pra mim com olhos de sabedoria,
pássaros sem pouso,
estrelas viajando segredos
Amiga minha, não sabes quanto da minha noite é caminho
Aqui dentro tudo em desalinho
Amiga minha, não sei quanto do teu mundo escolheu ser solidão
Acho lindo o seu silêncio
A sua livre solidão de passarinho
Como sede que se bebe devagarinho
Como palavras buscando um peito para dormir,
ou a tessitura do papel em branco,
hesitando em se fazer poesia
Há palavras antigas que dizem o teu nome
Há tardes, quietas
Há o tempo passeando nossa memória,
brincando de ser
A ilusão que sobrou e não se deslinda
A vida escrita com as coisas que ainda não sei
Você, eu já te conheço, ainda
Dentre as flores sempre há uma mais linda
Você me encanta
Você fala à minha alma
insaciáveis gestos de ternura
como a manhã que se abre e enche de teus olhos o dia
brisa brilhante cheia de atenção
O instante é este
A vida é esta
Nem tudo é sempre claro
Cada dia é um e sempre e raro
Olho você como o autor de um crime indefensável
Você estaria na minha morte, na minha condenação, na minha expiação?
Você seria parte da sentença de mais uma vida dentro da minha prisão?

Você é a amiga que eu gosto
Você é a amiga que os Deuses me deram pra eu não chorar
Você é
sossego
calma
tarde quieta
balanço de rede
canção
às vezes sim, às vezes não

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