sábado, 3 de janeiro de 2015

Noite sem luar


Noite sem luar –
Lá, o negro silêncio;
aqui, mudo sonhar.
 
Claudio Miklos
In O Bosque de Bambus
Coletânea de Poesias Haiku Zen


A noite acordou e entrou pela escuridão
escondendo a lua
Apagou o silêncio e a montanha
Encheu o ar de aromas sensuais e de passados
Meus olhos dormiram
encantados pelos sonhos de Mara
Meus lábios esqueceram as palavras
Meu coração não atravessou o rio
Minhas mãos tremeram diante
da possibilidade da flor
No céu a noite continuava caminhando
seus passos escuros
As estrelas queimavam-se,
crepitantes candeias
O vento soprava cinzas no caminho
Vou tateando e andando passos hesitantes
A mente cria os vários mundos,
do engano à submissão
Há que se arrostar o samsara
e viver e morrer e reviver no samsara
O tempo passou e já é quase hora de voltar pra casa
e nem sequer sei onde estive
Minha alma oscila entre o silêncio e o grito,
entre a sabedoria da inocência
e a cupidez e os vícios
Há campos e tempos a serem trabalhados,
flores a serem cultivadas,
véus a serem despidos,
há que se atravessar tantas pontes
sem que se possa refrescar-se nas águas límpidas do rio
há a noite e o silêncio e as folhas secas que o vento leva
e as portas por onde se entra na noite
e dentro da noite infrangível
e sobre o lodo do lago
brotam flores de lótus

Nenhum comentário:

Postar um comentário