sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

O silêncio quebrado


o pensamento esvoaça e inventa
o silêncio quebrado
pelo vento trazendo o passado
porejando antigas canções em lábios sem faces
abrindo as janelas indecifráveis de um mundo impronunciável
abrindo a voz da manhã florida de sons
onde as pétalas caídas das flores enternecem
a recordação dos teus lábios dizendo canduras e silêncios aos meus
dizendo dos tantos instantes imutáveis e imorredouros
que pode haver nos laivos da vida cruciante e translucida
no gesto encoberto por esta nostalgia precária e deambulante
por esta agonia e por este pranto
intocados anátemas modelando a minha alma
pelos níveos véus da neblina suspensa na manhã que acorda
e acende as cores nas flores
que sangram consumidas pela efemeridade de ser
e esmerilam incessantes o perfume frágil que a noite suavemente entornou
fazendo do aroma das flores a eternidade imponderável  de ser
desenham olores nas folhagens e coligem as manhãs
e os rios correndo para os abismos de tanta solidão
para tanto desassossego
e tudo, tudo, ofegando na plenitude desordenada e ambígua
do que pode vir a ser poesia
na imarcescível página em branco do dia
pergaminhos (pelos séculos)
minuciosamente lançados aos mares dos sonhos
trazidos no sono da noite súbita
embalados na cantiga das ondas em chamas
na ebulição irrevelada dos versos
na mansidão absoluta dos ventos
que trago mudas em meus braços
garrafas soçobradas no mar dos meus sentimentos

Nenhum comentário:

Postar um comentário