sexta-feira, 24 de agosto de 2018

59 anos


venho de tantos agostos
venho de tantos desgostos
de tantos sonhos insondáveis
o tempo passou, imponderável
são inescrutáveis os caminhos pelos quais caminho
procuro-me nos dias e nas noites de angústia e solidão
e, então, não sei quem sou
perco-me diante desta vontade de partir
sem ter lugar para ir
sem ter um lar para aonde eu pudesse voltar
este desejo impossível de ser além do que sou
este sentir-me miserável na voz imperceptível de um anjo caído
não sei quem sou
tenho um tédio enorme da vida

o tempo passou, inelutavelmente
sibilando saudades
melancolias
derrubando as folhas das árvores tardias
levando-me, rio caudaloso,
em busca de um mar portentoso
são inescrutáveis as palavras indizíveis
e misteriosas do destino

trago em mim este olhar de melancolia
este costume de amar de repente
esta inquietude temente
diante dos véus da alma
este desassossego dentro das noites rumo à aurora
que se arremessa dizendo tanta melancolia
este chorar tardiamente diante da angústia
e da agonia que estremecem em meu peito
esta saudade inefável do que foi ontem um menino

o tempo passou, senciente
o tempo passou inocente
deixando lágrimas e risos
deixando caminhos concisos
deixou, ao passar devagarinho,
o meu olhar triste e sozinho
deixou esta vontade incontida
de chorar por tanta vida
que passou sem eu notar

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