quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Enternece

 
enternece ouvir o amanhecer do dia
escorrendo pela janela
a luz devoluta e intocada,
morosa,
levantando-se da noite onividente
rompendo o escuro do mundo inocultável
lançando instantes
sombras nitentes
e gestos concisos
incendiando o ar frio e surdo do inverno

enternece ouvir os pássaros cantando
na manhã que se levanta retentiva
lentamente
inconclusa
intangível
encharcando o ar repleto de perguntas

enternece ouvir o silêncio dormindo junto ao teu corpo
recitando a madrugada
acalentando a solidão que invento
para os teus olhos escuros
como a noite que saciou o nosso amor
morte desfeita no inconsolável gozo
prelúdio da vida nascida entre as tuas coxas
rumor de pele arfante
o beijo aquietado em teus lábios
o desejo derramado
em tuas mãos espalmadas

enternece ver o amor
dormitando em teus braços nus
poemas sem rimas
reinos sem rei
tecendo eternidades
entrelaçando o cansaço dos amantes
falando sussurros ao teu ouvido
despindo o perfume dos nossos instantes

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