sábado, 13 de outubro de 2012

Os dias que voltam

Como podem ser eternos os dias comuns
e ainda mais eternos os dias que voltam
nos ventos que vêem do mar
e trazem rostos,
momentos,
carinhos,
sortilégios,
olhos negros,
nívea paixão,
outros mares
crianças de pés descalços
um menino sozinho
tangendo no nevoeiro
as letras do teu nome
chamando o vento em assovio
brincando nas águas das chuvas
esfregando vagalumes na camisa
O céu, carregado e cinza,
me entorpece
impossível ver o mar
na janela a chuva escorre
em absoluta solidão
como lágrimas em um rosto
morrendo nos lábios moldados em barro,
argila de ofuscantes mistérios
sem abraço,
sem despedida
só os cansaços secam o choro
bebem o silêncio
O livro que leio me lembra
que todas as palavras já foram usadas
e agora já não há como definir o que é ilusão
Impossível não mentir pra mim mesmo
o sonho continua respirando
a insanidade dos dias,
a melancolia
A chuva molha os minutos
o tempo é esta neblina enredada nos meus olhos
nos olhos dos espelhos
nos olhos puerís de um futuro impossível
O tempo envelhece
entre uma mania e outra
entre uma linha e outra de poesia
e sua íntima companhia
modulando este exílio
este pequenino mundo
de outroras narrativas
de paisagens úmidas
tingindo meus sonhos
e os cravos de um quintal
molhados pelo sereno
fragrantes como a infância
perenes como os dias que voltam
Voltam,
por que os dias não têm fim...
...não têm fim
dias que sempre encontro
quando olho dentro de mim
Os dias voltam, pretéritos,
nas noites e no rosto da insônia
levados pelo leito vermelho de velhos rios
que passam indistintos e sem pressa
alegres ou tristes
breve rumor do cricrilar dos grilos
subtraido ao silêncio da última madrugada
pintalgada pela chuva que cessou
E nos quintais
os pássaros acordam a aurora
despe-se a noite de seus enlevados enganos
faz-se o dia sobre os passos
que o fogo do mar grafou
na manhã que nasceu sombria
imiscuindo o horizonte ao mar
escondendo o sol
neste mar absoluto e abstrato
de sonolentas espumas
a rolar por entre a bruma volátil
dos dias que voltam
e contam estórias antigas
e cantam cantigas de antanho
serenamente
no mar solitário
que ainda outro dia era amor

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