segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Noite

Ó, noite,
que levas do dia para o mar?
Levo a luz que calcina,
as cores das flores,
das folhagens,
as cores que esplendem
no horizonte nos finais
das tardes sobre os lagos
levo a tocaia da tua saudade
e o lume dos teus sonhos
levo as tuas horas cativas
e o grito ao qual te inclinas

Ó, noite, de promessas e de
silêncios
de ausências e de contemplação
repousa teus olhos negros
no sono dos meus olhos crassos
e canta a cantiga de acalanto
que o vento murmura
ao passar pelos rochedos
onde entre as frestas brotavam
flores que a tua mão encobria
e onde ouve-se o augúrio do
gorjeio da ave noturna,
segredos, seres encantados
acalantos que a chuva traz

Agora que atravessas o mundo
carregando em teus cabelos
as cores do dia e os instantes
com os quais vivo a ilusão
de um tempo fragmentado
e com o qual transcrevo o
passado no presente,
criando o engano de um futuro
Agora, acende os espelhos onde
a vida se reflete cortando a
escuridão rumo às latentes
luzes que tecem as auroras

Ó, noite, teu fascínio se
imiscui aos crepúsculos dos
fins de tarde, sombra cinza,
amalgamando-se às cores
do dia e a elas se sobrepondo
estendendo  o manto negro
para que as estrelas iluminem
as lembranças por onde me
procuro no absoluto tão cheio
de presságios e afetos,
vem e traz contigo
os hieróglifos indeléveis
da poesia, o mel de uns versos
colhidos à noite singular e terna
e que pulsam no instante milenar
onde a idéia une-se à forma
onde o murmúrio dos anjos
confortam os náufragos da noite
quando em seus braços dormem
os teus olhos de infância
e o nosso primeiro amor

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