quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Sou nada


Acordam o que de pior há em mim
furam
e perfuram
inscientes
a dor sem resposta
o segredo sem tramela
a luz bruxuleante da vela

mergulho na convicção de ser tudo
que não fui
e duvido que serei
eclipse ou vento
ser humano
nem que seja por um momento
nada tenho de meu
abraço com os braços da culpa

sou nada
nunca fui nada
além de um amontoado de ossos, pele, músculos e vísceras
o que me faz sentir ser algo ou alguém é este sentimento
que me faz chorar de repente
cansado de ser adulto
insolente
prepotente
intocável
pelas tantas certezas que se me arvoraram no caminho
cansado de ser este homem
com saudade de ser menino
o que me faz sentir ser algo ou alguém
é este sentimento que me põe para dormir
nos braços exaustos de tanta ausência

há uma artéria pulsando no impasse da vida
na certeza da morte
cilada
engano
embuste
revelia contida no inescrutável da sorte

nada morre
o "fim" é um assombro inacabado
aprisionado
um nascer em um outro lado?
do nada, nada vem
para o nada, nada vai
os mundos e os homens inclinam-se para a luz
momento a momento
navegam
desenhando e contemplando um céu na varanda
prisioneiros deste universo friável
de inescrutáveis sortilégios

sinto ser algo ou alguém
na mão estendida para um amor que não vem
calmo girassol buscando o sol em olhares
fitando olhos lilases
arco-íris furta-cor
caladas estrelas decifrando a noite
decifrando o intrigante instante
que canta canções de bilhões de anos atrás
esperando que digam algo em tom azul
e eu leve comigo o teu rosto
no bergantim das saudades
que passa
nuvem lenta
punhal cansado da dor
das doloridas verdades

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