quarta-feira, 13 de junho de 2012

Do tempo e das estações

O inverno vem e inunda as manhãs sonolentas
o céu de junho derrama os seus azuis
nos olhos indecifráveis do mar
as tardes trazem o canto submerso
das estrelas azulando o horizonte
pelas janelas entra a brisa úmida de sonhos
o Tempo ondula em suas vestes de cetim e infinitude
o silêncio é um poema guardado sob as folhas
que cairam e secaram no chão pisado pelo outono
o dia se esconde nos olhos do tempo
a tarde vem no vento desenhando a noite
encobrindo com ternura o mesmo sol sob o qual eu te amava
folhas amarelas ainda caem nos lentos caminhos do crepúsculo
enquanto a noite adormece placidamente sobre os quintais

O ritmo do tempo e das estações e das chuvas
afligem meu coração
Pois
se é a mim que o tempo ignora
se é em mim que as estações doem a falacia do amor
se é em mim que as chuvas misturam-se à possível lágrima
e ao sal que o vento impreciso derrama em espirais lentas de solidão
então,
o tempo, as estações e as chuvas
vertem-se em mistérios nas pequeninas vidraças onde a borboleta se debateu
na enganosa transparência de um mundo que não era o seu 

Murmúrio lento
A noite é uma fogueira azul e prata
me chamando
Nesta noite posso ouvir o mar
e me embalar no mar
e me embebedar do mar
e sentir a candura das espumas das ondas
e morrer-se o pouquinho que se morre a cada dia
ouvindo o mar que murmura em quebrados rochedos
a água e o sal escorrem pela pedra dos meus olhos encantados
com o anjo que trouxe a noite silenciosa e plena
No silêncio da tua ausência as palavras inventam perguntas
Quem é esta que ficou no retrato?
Quem é esta cujo nome ondula como miragem no calor do deserto?
De quem são estes olhos que contemplam a flor?
Já não sei
Já não sei de quem são os passos tristes na inquietação dos meus caminhos
se tudo foi ilusão

Agora ficam as entrelinhas
fica esta saudade mendiga
ficam os poemas a escrever
e esta tristeza que inicia tão quieta
gotejando os momentos de te esquecer

Imagem: Jårg Geismar

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