quarta-feira, 20 de junho de 2012

À noite

À noite a palavra pode ter outro sentido
um pouco mais pungente
um pouco mais doído
e lentamente ir mortificando a vida

À noite a palavra pode ter outra certeza
um pouco mais convicta
um pouco mais aguda
e lentamente ir recriando velhos segredos

A palavra me consome
e se é triste talvez não diga tudo
deste silêncio dorido,
destes versos pueris,
poema mudo
como uma madrugada sem mar
como uma lua minguante
sem vontade de terminar

À noite a palavra pode ter outro perfume
um pouco mais amaro
um pouco mais de ardume
e lentamente ir espargindo velhos medos

À noite a palavra pode ter outro roteiro
um pouco mais talvez
um pouco mais era uma vez
e lentamente ir esquecendo o tempo que não veio
              [abro a porta,
              [vem o passado, tão antigo, em seu lugar

Imagem: Joan Miró

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