domingo, 10 de junho de 2012

Outro dia

Entre uma palavra e outra, há (a) poesia
Entre o mar e a onda, a (há) poesia
Entre o beijo e o arrepio, há (a) poesia
Entre a dor e os que estão sofrendo, a (há) poesia
Entre o sonho e a madrugada, há (a) poesia
Entre o vento e a areia, a (há) poesia
Entre as estrelas e o céu nu, há (a) poesia
A poesia abre as janelas úmidas das manhãs
ainda encobertas de véus e neblina
exala seu perfume nas flores
que balançam ao vento
e a vida inteira é poesia na página em branco
pergaminho na garrafa trazida pelo mar da alma na noite súbita
e a poesia é vida inteira nesta ilha
que declama seus versos onde há só ausência
versos que jamais escrevi
versos sôfregos sobre o balcão
onde repousam os livros que não li
livros onde entre uma linha e outra
entre uma frase e outra a (há) toda a poesia encantada
a me fazer feliz no instante antigo e quedo
as minhas mãos espalmadas esperam outras mãos
nos olhos cinzas de um minuto calcinado no tempo
vivos em mim
como nos quintais de minha infância
eu ficava esperando o céu se desmanchar em vermelhos
entre o céu e o vermelho, há (a) poesia
e a noite se iniciava insurreta
por sobre as montanhas ao longe
e os telhados das casas da minha infância
e espalhava-se pelo instante inefável dos meus olhos
a procurar por você dentre os poemas inacabados
dentre as estrelas
que já nasciam como sílabas de um verso e de um tempo
onde as palavras buscavam-te tontas de beleza e de sentidos vários
a poesia, tão antiga quanto a palavra, silenciava
e em silêncio acolhia minha alma e fazia voar borboletas
decompondo as cores dos jardins onde sonhava a lua
entre o lamento e o desenho da lágrima, a (há) poesia
há (a) poesia quando estou só
e a tarde se demora
e com as mãos sobre o rosto balbucio teu nome
lentamente
voam os pássaros em direção às arvores onde dormirão
os teus carinhos
voam os passáros em direção ao passado
para além da tua ausência
e do meu medo
e o poema se diz sozinho
como uma voz no deserto
que a vastidão perpetua
tatuado nas longas noites que inventei para te esquecer
(...)
Palavras...
as palavras doem
carrego-as por que é noite
longe, longe, longe...
é noite
já não escuto teu nome quando olho para o silêncio e a lua
já não me alcança o punhal pungente das tuas palavras
longe, longe, longe...
no horizonte que morreu e que voltou
amadurece o tempo
para nascer um outro dia

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