quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

E um dia vamos embora


E um dia vamos embora
Quixote combatendo moinhos
da pretensa realidade
onde tudo não passou de um sonho fugaz
esperando pelo tempo maturar nos campos
para acontecer
tão imortal quanto a alma do homem
tão infrangível quanto este ruído eterno no ar
e a ausência do humano
pétreas sombras esperando em cada esquina
arrivistas do medo
esmagando os passos e os sonhos
fragmentos de palavras insinuadas
comovidamente silentes e doces
o gesto suspenso e dissolvido antes da forma
a esperança cega e estéril dos homens simples
o canto dos pássaros entre a neblina
pairando sobre tudo que deixamos pela vida
como quem deixa bugigangas pelo chão

E um dia vamos embora
fomos só a personagem que imaginávamos ser
personagens introjetadas
bonecos de ventríloquos
fantoches e mamulengos
não nos atrevemos
não levantamos a cabeça
para que os olhos pudessem ver a injúria
e a ânima pudesse fazer da injúria
a mitigação das dores, amparo para a luz do sol
e consolação para a alma sufocada pela razão
pelas máscaras
neste teatro onde atuamos
irrefletidamente
sofregamente
solitariamente
sem sequer vislumbrar a Pergunta
oculta na claridade
em meio a tanta ilusão

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