domingo, 27 de maio de 2012

Perdi-me

Sei que é noite
e a flor rara e alheia
que descansa em teus cabelos
é a sombra do longo vento
espargindo teu perfume suspenso
no sonho
suspenso em caminhos onde o
escuro da noite se junta ao mar
O vento caminha lento como uma saudade
em doloroso passo
O vento se faz ouvir como um canto prenunciando
o movimento e o rumor da águas
Perdi-me
Perdi-me na tua noite
que agora habita os meus olhos
que faz das minhas tardes o espanto antiquíssimo
de ver as noites roçarem os horizontes
levando a luz em candeias
deixando a frágil solidão a procurar
a semente da luz  no estuário do dia
que lentamente finda em contornos alheios a mim e a ti
Horas debruçadas sobre o verde
garatujando o verde de nuances negras
debruando o horizonte com cores que se deitam sobre a terra
E, à distância, aninhando-se nos silêncios
e no inquieto passar das nuvens úmidas de agonias
a lua desespera em prata
incendiando a ilusão do tempo
E os astros na noite enorme se contemplam
na nudez inviolentada do mar
Dobra o silêncio no sopro doce da infinda noite
Afluem, vívidos na transparência negra dos traços
da noite onde repousa o reflexo imóvel dos primeiros dias,
o perene poeta e a submersa poesia
E tudo o mais daí se construía
Os versos da poesia eu ouvia mudo e calado (encantado)
Círios acesos dissolviam e recriavam a tua imagem 
A lembrança da chuva ficando como coisas antigas do Rio
onde mergulhamos o fogo diluído em nossos olhos
Onde o amor afastou-se de nós perdendo-se como criança
no bosque umidecido pelo orvalho candente da indiferença
E às margens do Rio a tua voz acordou-me do sonho
cindindo com tuas palavras o ontem desfeito (o tempo pressentido) 
O gesto imprevisto e triste molham-me os olhos
Lá fora havia um novembro a caminhar vagarosamente nos passos
simétricos e sigilosos do entardecer
Aqui dentro nossos espelhos acordaram o que não fomos
A vida desnudou a noite
Brincou com as rosas vermelhas que o meu coração teceu para você
Brincou com a tua ausência dentro dos meus olhos
e quando você se foi meu coração palpitava longe,
tão longe,
muito longe do mar (e do meu grito... e do meu pranto)

E na cálida noite, escondida em algum lugar de mim,
ficou você
e uma saudade que ninguém explica de te dizer adeus,
de andar na chuva,
e fazer nuvens com esta angústia tão rente ao chão
fazer nuvens, como na infância,
com papel de pão 

Contra o céu azul as orquídeas refletem os lindos crepúsculos de outono

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