sexta-feira, 4 de maio de 2012

A lua,
içada ao céu sonâmbulo,
estende-se em prata na noite nácar
e faz lembrar cantigas tontas de enleio
e faz lembrar gestos lançados ao infinito
das noites que se demoram a olharem-se no mar
e no mar encontram outra razão,
um adeus,
talvez,
o sussurro
trazido na pressa das ondas difusas
onde o poema pára o tempo
e se distende no instante castanho-verde
dos teus olhos
que brincam dentro da noite
sementes de estrelas
lançados ao céu para germinar
letras contidas por este trema
que as aparta
têm brilho, sons e cores
de apaniguados amores
mimos
versos
sonhos
rimas
fulgindo entre silêncios
que o movimento do mar segrega
e se embriaga
na tua pele de seda
no fogo
cançao crepitante em desertas praias
chamando você
para ver a lua
içada ao céu sonâmbulo,
estender-se em prata na noite nácar
quem dera, nesta noite, fosse meu o amor
e amar fosse o bastante
para arrastar meu destino
porta a dentro da tua casa
o vento chora o que digo
sonho de poeta
ilusões de amigo
assim como não há um verso novo
assim não há amor antigo
neste outono
de cores maduras
ocres
brincando nas meias-tardes
de chuvas fininhas
de vermelhos e lilases no céu
onde a lua apanha o teu sorriso
e ilumina a minha rua
o poema
insiste em sentir,
intrinsincamente,
o que dói nas palavras
não ditas
nas meias palavras que teimam
em morrer na minha janela
nas meias-tardes de chuvas fininhas
guardo o teu nome
na minha voz
no meu dia de lua cheia
na minha noite ensolarada
a vida, assim, assim,
a vida pelo avesso
o passado aqui ao meu lado
olhando pela fresta
da nossa impossibilidade
O vento sopra ao longe
as gotas de uma chuva
que até hoje chove em mim
o vento
vai
e vem
e volta
e traz de volta
você
num cheiro
de terra úmida
flor na janela
poesia na lapela
sonho fazendo barulho
misturando letras e histórias
que vadiam em minhas mãos
procurando sintaxes
que as façam viver a vida aqui fora
ou rimas que as façam em poesia
como as que os sinos declamam
falando de horas e tempos
dos homens e suas noites
e da vontade de ficar só
só pra saber
com quantos adágios
move-se meu movimento
agora que o amor acabou
e deixou apenas a minha sombra no espelho
e este gosto de eterno
da vida que vem com as chuvas
molhando a primavera quase verão
até que a poesia,
entediada,
ao invés de dizer o teu nome
dissesse não


Imagem: Pablo Picasso

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