domingo, 30 de setembro de 2012

Primavera

É setembro nos tons
acobreados desta noite
de inicio de primavera
Um candeeiro acende
a madrugada
e o seu manto de opala
Lua cheia sob um céu
negro azulado,
cata-vento de estrelas,
olho de prata,
luzeiro de jaspe,
refletido neste
rio carmesim
As horas sopram
lembranças
das manhãs e seus
céus coloridos,
das tardes de pergaminho,
das noites prateadas
e azuis
feitas de saudades,
feitas deste crepitar
das árvores que a brisa toca
como uma fada das águas
As estrelas queimam
o cerne do benjoim
e enchem o ar de
uma poesia dolente
e perfumada
As luzes nos postes
acendem as sombras
nas ruas que caminham
levadas pelos ventos
e tecem canções
molhadas de segredos
Um beijo...
nos teus olhos negros que
fitavam os meus
e punham em mim
a quietude da noite
a mansietude dos sonhos
Quando ias embora
meu coração se perdia
no perfume da tua ausência
tatuado em minha alma
Quem é esta menina que
suspira nas minhas madrugadas
e caminha pelas ruas desertas
sozinhas como uma lua?
Ainda sonho seu olhos negros,
seu corpo de luz e sombra,
seus lábios mordiscados
por este amor que doía
quando eu enlaçava sua cintura
nas tardes que ficaram em mim
como um sinete
dos seus lábios nos meus
É primavera
e o silêncio transpira
o aroma das flores silvestres,
da terra molhada
Um pássaro voa
sobre a minha vida
e eu compreendo
a doce e triste voz
do trinar da ave
e o eco dos meus passos
tentando lhe acompanhar
pelas ruelas da minha vida,
da minha infância
Choro o grito
que vem no vento
entrelaçado de soluços
Ao longe os sinos dão as horas
A cidade desperta lentamente,
modorrenta,
ao bimbalhar do sino
que traz consigo a manhã
misturada com o horizonte
e o perfume sonolento
das flores que bailam
na aragem ébria
dos aromas dos jasmins
A luz nasce e se aproxima
como uma fábula
A vida introjeta as cores
de um novo dia
No céu o sol e a lua
são duas ninfas desnudas
Os versos de tez morena
não dormem jamais,
pululam na madrugada de nácar
Ficam a gotejar das estrelas
sobre a anágua dos rios,
entram pelas gretas do sonho
nestas manhãs de setembro
que não esquecem o menino
de pés descalços
e asas de pássaros
que um dia sonhou o amor
A manhã, muda e quieta,
abre os olhos
negros como os teus,
banha-se nas águas do rio
Rumores de águas das chuvas
onde barquinhos de papel
carregam as folhas verdinhas
de mais uma primavera
A aurora exibe o segredo
azul, lilás,
dos meus silêncios de menino,
da minha solidão,
náufraga desta ilha oculta
que se desnuda em mim

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