sexta-feira, 1 de maio de 2015

Quando olho no espelho

Quando olho no espelho
me soa estranha a figura
que me olha, enigmática,
do outro lado
e que quando eu lhe aponto o dedo
ela me aponta de volta o dedo carregado
de tristes repreensões
e me evoca sem dizer palavra
Indeciso, não atendo
A vida é só esta máscara?
Esta persona?
Este anacoluto escrito por uma sina?
Só este anacoreta extraviado no espelho?
Quem é a figura dentro do espelho?
A sombra de um mamulengo?
Tanto pode ser eu como o outro
se for o outro é o inferno
e se o inferno não for o outro?
e se o inferno estiver do lado de cá do espelho?
e se o outro for o espelho?
Daqui vislumbro o fim
O fim não começa lá fora
O fim lateja dentro de mim
e é o inferno de agora
e de Dante(s)
O fim carcome a vida em silêncio
que entre nós dois coabita
por detrás da cortina de vidro
Será realmente eu o vulto que se desdobra no espelho?
E aquela imagem de ontem quem era?
Foi embora
calcinada pelo fogo bruxuleante
da inelutável oxidação,
da friável vida
E a imagem de amanhã, quem será?
Ai de quem tem espelho em casa!
Quando menos se espera,
o tempo passando
um vulgo suspeito
do outro lado do espelho
as marcas de expressão se expressando
sem grana pra comprar um protetor Fodex
que merda!!!
envelheci e nem percebi
tartamudeia o meu lado de fora
alguma coisa a ser dita
pelo meu lado de dentro
talvez uma balada lenta e dolente
talvez a sentença extrema
a exegese derradeira
mas não aqui nem agora

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