quarta-feira, 13 de maio de 2015

Seráfico


os dias inábeis
lentos e opressivos
cochicham
ao passar do vento
na dolência das tardes
uns versozinhos azulados
uns versozinhos avessados
estórias irrisórias
e soluçantes
que nem sequer
desvelam a face fútil da vida
que não guardam
as areias
calendários do passado
caindo de uma âmbula
a outra
os dia inábeis
caem
choram
e levantam-se
esquecem-se
nas miríades
de espelhos
esfumados pela ilusão
lacônica de frívolas
personas ensimesmadas
para quem a sombra e o reflexo
são a iconografia deslindando
o Ser dissoluto e póstumo
imagem imprecisa
dentro do tempo
que acaba de passar
diletante e longo
pela rua desprendida e deserta de si
corroendo a aragem
que desce com os riachos
que escorre
imperceptivelmente
das incandescências
do horizonte cinábrio
que faz da vida
um punhal de aço
vagaroso e tênue
uma antiga e nostálgica
sucessão de amealhados
instantes
imenso passado
de vidas por acabar
de sonhos por acabar
de coisas por esquecer
em seráficos luares
em rútilas horas
intangíveis
como os céus
evanescentes
como um final de tarde lilás

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