segunda-feira, 27 de julho de 2015

Quando


Olhando nas faces da vida e da morte
chorei ambas
Morrer não é apenas a ausência que se faz
a madrugada repentina
Não é simplesmente fechar os olhos
sem lágrimas
Não é só o silêncio esquecido nos lábios
A morte é o cárcere do instante que passou
inocente, tenso, translúcido e luminoso
como são inocentes, tensos, translúcidos e luminosos
os instantes todos dos dias
E eu clamo, então, pela vida
e pelas flores de mais um amanhecer
que me toma as horas no despudor das manhãs
que, ignorante e desolado, não entendo

Há esta dor no peito da noite
se noite houvesse
e não houvesse estas jaulas sedentas de liberdade
e não houvesse medos e muros dentro dos instantes
ansiosos e atormentados
acobertando o mistério e o segredo
de tanta solidão pousando envolta em enganos
na trama ingente da vida
e nas flores brancas dos jasmineiros
E que tudo não fosse apenas a cambiante imagem
de uma desmesurada colagem
montada em conúbio sobre a areia e a agonia dos ventos

Tudo o que digo são as palavras que meus lábios buscam
quando a brisa sopra
quando me afogo em mares semoventes
quando a chuva cai
quando nasce a flor
quando o filho dorme
quando lembro de chorar
quando esqueço de sorrir
quando apago a lua
quando apago a luz
quando fala a noite
errando em meu quarto
quando vem o amor
quando o amor se vai
e fica tanto adeus
e fica no tempo este exílio
que fito dentro do espelho

O que penso saber é o que foi dito
e o que foi dito aquieta-se
nos milênios incontáveis
em caminhos fatigados e distraídos
e, então, começa o silêncio ensimesmado
começa o outono de folhas caindo no colo da poesia
começa o retinir enganoso das horas
amadurecendo os anos
os danos e as ilusões
começam os jardins
sem flores da tua ausência
de resto
eu nada sei

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