sábado, 27 de dezembro de 2014

Honey

 
A LINGUA LAMBE
 
A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.
 
E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
 
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.
 
Carlos Drummond de Andrade.
In O amor ao natural, pag. 49, Editora Record, 2011. 
 
 
 
honey, você tem que me dizer
se tá bom, se tá ruim
meu beijo, assim, em você
se você não fala nada
a mágica pode não acontecer
a poesia pode se esconder
e não vai ter varinha nem fada
que faça você flutuar
Minha menina pequena, se você não fala nada
eu posso errar os caminhos
eu posso me errar nos carinhos
mesmo querendo acertar
a minha língua procura
teu mel, honey, a tua doçura
busca onde mora em ti a eternidade
o tempo em suspensão
a suposição da morte
a indecência e a castidade
a imersão fremente na vida
toda a tua pele despida
tudo de propósito pra te encantar
E a chuva prenunciada
só o vento lépido e cálido pode trazer
Docinho, cicia, sussurra,
fala a linguagem das mãos,
me diz como quer
me diz se quer
que eu vá abaixando ou subindo,
mais lento ou mais rápido,
se é o beijo molhado
se é o lambe da língua
se é o roçar açodado dos meus lábios
nos lábios da tua flor
que faz você me molhar
honey, flor da açucena, o teu corpo fala,
mas fala palavra pequena
e eu posso me enganar
flor da açucena, amorzinho, tem dó de mim
tem pena
que enlouqueço, perco o juízo
no teu gosto álacre e conciso
na tua flor namorada
na tua flor ensopada
que eu bebo eu babo eu deslizo
honey, meu mel, minha abelha rainha,
quando eu te beijar,
minha boca na tua boquinha,
me prenda a cabeça com as coxas
me solte só quando gozar

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