quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Campos de miosótis


Eu sumi
Você sumiu
Ficaram dias maduros
As noites também ficaram
Ainda surgindo do horizonte
Quando a tarde treme
No mais completo silêncio
E as estrelas transbordam
E passam,
Pequenas agulhas azuis
Perfurando a escuridão

Escrevi cartas em pétalas de flores
Uns versos
Com a mesma sede de barro
Que eu tinha na infância
Versos que se perderam
Talvez
Nos caminhos cansados de espera
No tempo adormecido
Dos teus olhos feitos de água
O tempo acendeu rosas brancas
Já não diz nada
Rosas brancas...
Quem quer rosas brancas?
Cultivadas na poeira entornada pelos dias
Acho que tu não quererias, por certo
As palavras podem atrapalhar,
dileta amiga
Por muito andar distraídos nos perdemos
O tempo acendeu saudades
As luzes da tarde caem como palhas e o vento,
Entrando pela janela desolada,
Rouba os barcos ao mar,
Mordendo a paisagem
Como hei de te reencontrar se barcos já não há?
O mar ficou inabitável
O tempo põe-se a dormir
Nas varandas caiadas de distância e solidão
Nos versos que faço ficam os
Rumores do cheiro inocente do voo do pássaro
O inverno escuta as chuvas
Entre o mar e o mar
Entre a manhã e a pedra
E a vastidão do silêncio
dos bosques a te procurar

Sinto sua falta,
Amiga minha
A música cessou
Imperfeita
Inaudível
Apartada de ti
Não
Eu sumi
Você sumiu
Há uma lua no céu entre os portões
Dos campos de miosótis
É noite nas águas e no olhar das lágrimas
Do silêncio a te procurar no exílio da tela branca
do computador

Eu sumi
Você sumiu
Fechamos os olhos dos sonhos
O primeiro sonho já dormiu
Mal o poema se abriu

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