sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Vendem-se crises


Vendem-se crises
                      
Crise financeira (cujo pico de oferta se dá, para os humanoides,
                           entre o final do ano e o carnaval, se estendo ao
                           longo do ano.
                           Já para o país a oferta de crises financeiras
                           depende de escusos interesses políticos e,
                           em menor escala, de escusos interesses
                           econômicos)
Crise sem eira nem beira
Crise política
Crise plantada
Crise monolítica
Crise requentada
Crise déjà vu
Crise amorosa
Crise raivosa
Crise de ansiedade
Crise de identidade
Crise do parto
Crise dos 10
Crise dos 20
Crise dos 30
Crise dos 40
Crise dos 50, 60, 70, 80...
Crise de estar vivo
Viver é uma crise
a mais profunda
e ao mesmo tempo a mais banal
Crise de forma
Crise de conteúdo
Crise de coito interrompido
Crise de abstinência
Crise de ansiedade
Crise de choro
Crise de riso
Crise do bem
Crise do mal
Crise de valores
Crise sandia
Crise da crise
Crise sem crise
Crise emocional
Crise pré nupcial
Crise matrimonial
Crise moral
Crise de casal
Crise do pau
Crise anal
Crise venal
Crise renal
Crise fatal
Crise fecal
Crise banal
Crise atual
Crise mundial
Crise factoide
Crise factual
Crise existencial
Crise de nervos, afinal

Crise, crise, crise...
o que não falta são crises
diante dos nossos narizes

Vendem-se crises

Escolha a(s) sua(s) crise(s)
para ser um neurótico legal
um aloprado sem igual
um fortíssimo candidato
a embarcar antecipadamente
não se sabe muito bem pra onde
e lá, sim, aguardar tranquilamente?
pelo juízo final...
sem crise, espera-se

In(com)formado ou não
sabendo de tudo um pouco
para ver se entende este mundo louco
ou um alienado total
com a cabeça já na ratoeira
sem perder de vista o queijo
e o ouro na algibeira
sem perder o discurso formal
"manga com leite faz mal"
é o que diz o povo
e a voz do povo é a voz de Deus
deve ser por isso que Deus fala e faz tanta besteira

Escolha a sua crise
é só ligar o rádio e/ou a TV,
folhear a revista, se entocar no celular,
passar os olhos pelo jornal, acessar a internet,
conversar com a Claudinete, a Maria, o Zé, a Margarete
ouvir a Dilma, o Aécio,
o ministro, os políticos em geral,
a sociedade dita organizada,
a sociedade desorganizada, avacalhada, bagunçada
todo mundo tem seus "achos", sua versão para você adquirir
a crise que mais se adeque a você
a oferta de crise boca a boca não tem final
entra crise sai crise "nóis" é um povo batuta
"nóis" é um povo legal

cansei!!!
de tanto digitar e falar sobre crise entrei em crise digitativa
vegetativa, et cetera e tal

A crise que você quer está por ai,
te esperando
borbulhando mais que Sonrisal
mais faminta que calcinha de passista
mais veemente que um encontro sexual
naquele motel de quinta
ou numa suíte presidencial

Como concluiu o pensador enfezado e fezeano*,
mudo, cego, e surdo Baba Naglande,
depois de escarafunchar o mundo
em busca do Santo Graal:

"Os dias não são igual,
tem dia que é escuro puro
tem noite em que a luz
é um esplendor colossal"

PS.: *O pensador fezeano é o adepto da corrente de pensamento que proclama que tudo é uma grande merda.
E o que ainda não parece ser uma grande merda é por que não foi observado suficientemente de perto e/ou ainda não foi remexido com o ímpeto necessário a promover a pressão, atmosfera e temperatura ideais à sua percepção integrar do monturo

Imagem: Charles Louis La Salle

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