sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O mar veio depois do teu nome

 
O mar veio depois do teu nome
Pingo
escorrendo da tua
pra minha boca

A minha mão acariciando o teu corpo
por cima do teu vestido encantado
como o farfalhar de folhas antigas
e tu me contavas devagarinho
os teus segredos mais verdes
deixando na boca um travo

Eu te beijava
como se beija o primeiro amor
inseguro
desajeitado
ansioso
querendo dizer paixão
sem saber
um sem saber de criança
sem saber que a tua boca
guardava anjos e prostitutas

Eu perfumava meu rosto
nos teus gemidos
nos teus cabelos molhados
do banho no tanque
onde tu banhavas as tuas alegrias
e as águas todas eram rios fugindo

Nós éramos dois bobos
que o mundo não alcançava
nem corrompia
só o silêncio sabia dizer
o que a minha palavra não dizia

Aí veio o vento
era domingo
no ar havia cantigas
e o poema fazia
e desfazia versos
e com o vento
o mar veio vindo
veio vindo
o mar veio
depois das tuas mãos
do teu colo
dos teus seios
dos teus olhos
dos teus lábios
depois das tuas pernas
depois do teu suor
Pingo após Pingo
deixando o sal adormecido no teu corpo
e, então, tu já vagueavas e vadiavas em mim
entre o amanhecer sussurrante dos meus braços
e os soluços da tarde encostada comovidamente
na ilusão extrema da noite dissolvendo-se em carmesim

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